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Brexit e Irlanda: o que acontece na fronteira

northernirelandA decisão do eleitorado britânico por deixar a União Europeia, tomada na última semana, vai causar profundas consequências para a Irlanda, como o blog relatou. Uma das mais preocupantes começa a se desenhar: a fronteira com a Irlanda do Norte. A população da ilha e a classe política tem feito esforço para encontrar uma maneira de evitar que seja estabelecido controle de fronteira, mas as expectativas não são boas.

O fato de a fronteira ser um tema sensível recorre da guerra de independência irlandesa, no começo do século XX, e do tratado assinado entre rebeldes e britânicos, no qual uma das cláusulas indicava a separação de seis condados no norte, que seriam denominados Irlanda do Norte e permaneceriam parte do Reino Unido. O local é de forte presença escocesa e protestante, ao contrário do restante da ilha, predominantemente católica. Por isso, tensão era esperada.

O tratado, entre outros fatores, levou a República da Irlanda a uma guerra civil, vencida pelos apoiadores do Estado Livre, pró-tratado, com ajuda do Reino Unido. Os derrotados, chamados de republicanos, mais tarde voltariam à carga desencadeando onda de violência em território norte-irlandês principalmente durante os anos 60, tentando minar o controle britânico sobre a área. Depois de anos de atentados terroristas, com a ascensão do IRA, e de mortes de civis, a paz foi alcançada em 1998, com a assinatura do Good Friday Agreement, que define a relação entre República da Irlanda e Irlanda do Norte.

Esse frágil equilíbrio está ameaçado. Atualmente, a fronteira é praticamente invisível: não há pontos de checagem no lado britânico, o trânsito de pessoas e mercadorias é livre. Mas a chance de permanecer assim, de acordo com entrevista de Gerry Adams ao jornal Her, é mínima. Adams é o líder do Sinn Fein, partido unionista atuante na Irlanda e historicamente ligado ao IRA. Para ele, mudanças são inevitáveis.

“Isso (a fronteira invisível) vai terminar. Até onde, é difícil dizer. A fronteira agora vai ser a única por terra entre o Reino Unido e a União Europeia”, ressaltou. “A campanha pela saída (da União Europeia) foi amplamente baseada na questão da imigração. Será que um governo britânico conservador de direita estaria disposto a deixar a porta dos fundos abertas para que talvez imigrantes pudessem entrar?”, pontuou o político.

O temor é que o possível controle de fronteiras ajude a elevar a tensão na região, enquanto já se fala na possibilidade de a Irlanda do Norte abrir plebiscito para deixar o Reino Unido, já que o país, junto da Escócia, votou majoritariamente pela permanência na União Europeia. O movimento unionista irlandês deve agir também.

Há, claro, a possibilidade de o relaxamento da fronteira entre as regiões causar, por outro lado, um estreitamento do controle irlandês quanto a imigrantes – intercambistas inclusos. E é aí que brasileiros, por exemplo, podem ser afetados. “O Brexit cria incerteza e instabilidade”, resumiu Gerry Adams. Até mesmo para britânicos. De acordo com o jornal Irish Times, os pedidos para passaporte irlandês dispararam no Reino Unido, de pessoas preocupadas em manter a possibilidade de livre trânsito pelos países europeus. Como a imigração entre irlanda e Reino Unido sempre foi recorrente, muitos têm o direito de requisitar o documento.

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Reino Unido deixa a UE. E a Irlanda?

brexitA notícia mais chocante do ano foi anunciada nas primeiras horas da manhã desta sexta-feira: com 52% dos votos em referendo, o Reino Unido vai deixar a União Europeia. O bloco econômico e a integridade econômica europeia entram em cheque, bem como o futuro britânico – David Cameron, que fez campanha pela permanência na UE, renunciou ao cargo de primeiro ministro horas depois do anúncio do resultado. E a Irlanda? O que isso significa para o país vizinho?

É importante ressaltar que já há algum tempo a Irlanda não pertence ao Reino Unido – a independência foi conquistada em 1922 e, em 1937, o Estado Livre Irlandês virou a República da Irlanda que conhecemos hoje. O que não mudou foi a relação extremamente próxima com o Reino Unido, primeiro porque ainda detém seis condados que configuram a Irlanda do Norte. Segundo, porque é um importante parceiro comercial e político. As consequências da saída britânica da União Europeia ainda são desconhecidas, mas potencialmente negativas.

Por isso, o jornal Irish Times chamou o resultado das urnas de “pesadelo”. De acordo com a publicação, a Irlanda vai precisa redefinir seu lugar no mundo, agora como o principal país com língua inglesa no bloco econômico, com potencial para atrair muitos dos investimentos que invariavelmente deixarão o Reino Unido, se tornando a porta de entrada para o restante do Velho Continente. Parece bom, mas não é só isso, obviamente.

As relações com o Reino Unido também precisarão ser revistas, e há temor de que o desfecho político e econômico seja desfavorável aos irlandeses. Há grande instabilidade entre os britânicos agora. No referendo, ingleses e galeses votaram em maioria pela saída, enquanto escoceses e norte-irlandeses quiseram a permanência. Cogita-se que a Escócia, que em 2014 recusou por voto popular sua saída do Reino Unido, possa voltar à carga.

Isso sem contar a Irlanda do Norte, um barril de pólvora sempre a preocupar britânicos e irlandeses. Com a recente decisão, o Reino Unido deve instituir controle de fronteira, que pode elevar novamente as tensões, em momento em que um “novo IRA” se articula na Irlanda. Há possibilidade de que confrontos entre católicos e protestantes no norte volte a acontecer. Pior ainda seria um cenário em que os norte-irlandeses se desmembrem do Reino Unido.

A partir desta sexta-feira, a Europa vive uma nova realidade. Temores de que diversos outros países sigam a linha britânica não são exagerados, o que abre espaço para a ascensão de movimentos nacionalistas e extremistas – entre os motivos da decisão estão o melhor controle de imigração e o fim dos benefícios sociais pagos a não-britânicos. A história mostra que isso não rende bons resultados no Velho Continente.

Não há motivo para desespero, no entanto. Quaisquer mudanças não serão imediatas. Britânicos agora se reunirão com o restante da cúpula da União Europeia para negociar a saída, processo que pode durar até dois anos. Até lá, o Reino Unido continuará submisso às leis que regem o bloco. Intercambistas poderá transitar por lá livremente, de acordo com seus vistos. As consequências mais profundas ainda demorarão a aparecer.

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Questão Brexit: o que muda para a Irlanda

Brexit é o apelido dado por jornais europeus para a importantíssima questão que vem sendo discutida no continente nos últimos meses: se o Reino Unido deve ou não deixar a União Europeia. Em 23 de junho, cidadãos britânicos votarão a questão em plebiscito, enquanto o restante dos países acompanha as campanhas pró ou anti-saída com apreensão. A Irlanda, obviamente, é um deles. Mas o que muda para os irlandeses?

É preciso entender os motivos que levaram os britânicos a ir de encontro com a União Europeia: basicamente, o Reino Unido vê com reserva o livre trânsito de pessoas, com implicações relacionadas a imigração, segurança e benefícios sociais, estendidos a todos os cidadãos europeus. Um acordo recente deu maior autonomia aos britânicos, o que é visto com ressalva no restante do continente, criando um temor de que outros países também exijam exceções aos termos em comum, criando uma espécie de “União Europeia a la carte”.

A relação entre Irlanda e Reino Unido é diferente da cultivada pelos britânicos com o restante dos países. Talvez pelos irlandeses só terem conseguido a independência em 1921, atualmente eles têm muitos benefícios no Reino Unido: podem ficar indefinidamente, têm direito a voto, podem utilizar o sistema público de saúde, entre muitos outros. De acordo com especialistas, no entanto, a Irlanda pode ganhar ainda mais se a decisão no plebiscito for pela saída da União Europeia.

A expectativa, de acordo com o jornal Irish Times, é de atrair mais de €6 bilhões em investimentos internacionais. Alguns bancos inclusive já moveram parte de suas operações de Londres para Dublin, O mesmo pode ocorrer com diversas outras empresas, com realocação de pessoal e estrutura. Embora o balanço geral de uma eventual saída do Reino Unido seja ruim para a União Europeia, há pontos positivos para países como a Irlanda, que seria o principal país do bloco com o inglês como língua oficial.

De maneira indireta, há benefícios também para intercambistas e pessoas que planejam tentar a vida na Irlanda. A economia pode melhorar e haverá mais oportunidade de emprego. Os impactos dessa decisão serão conhecidos assim que ela for tomada, em 23 de junho.

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